Sabe-se dos animais que lambiam as pedras e dos primeiros homens entrando em grutas procurando o sabor salgado. Sabe-se da importância do equilíbrio das águas e do peso das luas. Da purificação exigindo ao mar que caminhe em serpente por canais. A água que se cansa, o chão que só permite pés descalços.
As mulheres já não carregam trinta quilos de uma só cor à cabeça, mudando o peso de lugar, construindo paredes brancas em casas de madeira, mas os corpos ainda se orientam nos fios de terra por dias sucessivos ordenando as praias, cuidando as marinhas.
O sal não quer pressa nem tampouco certeza. Ao deixá-lo à noite não se sabe como se encontrará de manhã. Mas quem o entende conhece as voltas a dar para lhe restaurar a brancura.
Este lugar, parecendo pouco mais do que silêncio, é uma herança ancestral do homem que aprendeu a ler a natureza, a trazer o mar para terra, consoante as marés e as luas. Um ofício disposto à imprevisibilidade, às condições do tempo, mas que persistiu pelos milénios intimamente ligado à história da humanidade.
O futuro olha-se daqui. Do chão que sempre se prepara sem nenhuma garantia. E sabe-se, se o deixarmos em repouso voltará a ser mar.
MARIA OLIVEIRA, 2020
Valorizar a Salina do Corredor da Cobra enquanto património natural e cultural
A exploração de sal teve sempre um papel determinante na economia local da Figueira da Foz — as referências mais antigas a essa atividade, bem como à Ilha da Morraceira, remontam ao ano de 1166. Reconhecendo o potencial natural e cultural do salgado enquanto alavanca de desenvolvimento sustentável do território, o município adquiriu a Salina do Corredor da Cobra, com o intuito de promover a reativação e manutenção contínua da atividade salineira.
Aí nasceu o Núcleo Museológico do Sal, um centro de informação, educação e sensibilização para a necessidade de preservação de uma atividade tradicional e de um produto natural, que se foca na interpretação, valorização e difusão de testemunhos singulares reportados à relação secular das populações com o território das salinas do concelho.
Este complexo cultural e ambiental integra um Armazém de Sal, uma Rota Pedestre pelo salgado, uma Rota Fluvial pelo estuário do Rio Mondego e ainda um observatório de aves, afirmando-se como um local privilegiado para desfrutar de uma grande riqueza faunística e paisagística.
Trabalho desenvolvido no âmbito do programa Sustentar, com o apoio da Câmara Municipal da Figueira da Foz.